Embora os fenómenos físicos tenham desde sempre suscitado a admiração e despertado a curiosidade dos Homens, remontando à Antiguidade a tentativa de compreensão e previsão da Natureza, a Física, entendida como ramo autónomo da Ciência, é relativamente recente. Com efeito, só no Séc XIX é que a Física se separou das outras ciências. Esta autonomia deve-se ao grande desenvolvimento que a Ciência em geral teve nos séculos XVII, XVIII e XIX e que levou à divisão das Ciências Naturais nos grandes ramos que conhecemos hoje em dia: Física, Química, Biologia (Botânica e Zoologia), Medicina e Engenharias.

A Física é uma das Ciências Naturais, ou seja, é uma das partes da nossa tentativa de compreensão da Natureza. A actividade da Física cinge-se à procura incessante da compreensão e previsão dos fenómenos da Natureza de carácter mais elementar. Não quer isto dizer que os fenómenos estudados na Física sejam elementares e muito simples, antes pelo contrário. A sua complexidade pode ser tal que desafie qualquer tratamento pormenorizado (como por exemplo na termodinâmica ou na dinâmica de galáxias) restando-nos unicamente a possibilidade de estudar grandezas médias que permitam prever o comportamento global dos sistemas estudados, ou a sua simulação com modelos simples na esperança de descobrir as regras que gerem os sistemas completos. Por outro lado o âmbito dos fenómenos estudados na Física é de tal modo vasto que é vulgar dois cientistas ao falar de assuntos dos seus respectivos ramos terem dificuldade em se entender um ao outro.

Em Física estudam-se fenómenos tão diversos que vão desde as partículas elementares como os mesões, leptões, etc. até às mais longínquas galáxias e ao Universo como um todo, passando pelos átomos individuais, agregados cristalinos de átomos, sistemas macroscópicos (líquidos, gases e sólidos), etc.

Quando pretendemos compreender um qualquer fenómeno na natureza, o modo como procedemos, em Física, é seleccionar as características que julgamos serem as essenciais. Por exemplo, os Gregos verificaram que um corpo em movimento acaba por parar e daí deduziram que é necessário uma força para manter um corpo em movimento. Galileu e Newton, observaram o mesmo fenómeno, mas disseram que a paragem do corpo não é uma característica essencial da situação em causa. Depende do atrito; na ausência de atrito o corpo continua a mover-se. Se tentar-mos realizar uma experiência que teste este ponto de vista, verifica-mos que é impossível eliminar completamente o atrito ou outras forças retardadoras, mas podemos tornar essas forças muito pequenas, e, quanto mais pequenas elas forem mais longe vai o corpo antes de parar. É, portanto, razoável acreditar que, no caso limite em que não há forças de atrito, o movimento não se modificará, como é afirmado na primeira lei de Newton.


(pjmendes@fis.uc.pt)